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Boletim da SBEnQ 005 – A Química contra a pandemia do Coronavírus (COVID-19)

Cloroquina – Ciência ou Política

Desde o século XVII, o valor e o respeito à Ciências se consolidaram devido a suas metodologias claras, que envolvem observações cuidadosas e rigorosas que evitam crendices e suposições pessoais na construção de novos conhecimentos. Para responder as perguntas, a Ciência desenvolve ideias que precisam ser testadas de várias maneiras. Novas hipóteses, como a eficácia de um medicamento na cura de uma doença, devem testadas por meio de experimentos cuidadosamente elaborados e controlados.

No meio à pandemia causada pelo coronavírus (Covid-19) são inúmeras as soluções não cientificas que aparecem. O que causa maior espanto à comunidade cientifica e grande parte da população é um político populista querer lançar o Brasil numa aventura química. Negacionista da Ciência, não é a primeira vez que o presidente Bolsonaro quer colocar o país em uma aventura química sem a devida comprovação científica. Em 2016, como deputado federal, apresentou projeto para liberar o uso da “pílula do câncer”, um remédio vetado (a fosfoetanolamina). Agora, como Presidente da República (PR), ao contrário das orientações do próprio Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde – OMS, quer que pessoas contaminadas pelo Covid-19, mesmo em fase inicial da doença, tomem o medicamento hidroxicloroquina ou a cloroquina (menos tóxica), mesmo que essas substâncias não tenham comprovada eficácia científica contra o vírus. Para tanto, o PR ordena o gasto de milhões de reais, dinheiro do contribuinte, com a importação dos insumos químicos (princípio ativo) da Índia para fabricar o medicamento no país.

Conhecido por suas crendices e fantasias sem limites, agora propõe que vidas sejam colocadas em risco pela utilização de um medicamento, com efeitos colaterais comprovados – vómitos, cefaleia, alterações na visão, fraqueza muscular, reações alérgicas e até retinopatia – que utilizado no tratamento de doença reumática durante a gravidez. Cloroquina não é uma aspirina, tampouco o Covid-19 é uma gripezinha.

Cientistas e especialistas do mundo todo têm afirmado que somente uma vacina colocará um fim nos efeitos desse vírus. Sobre a Cloroquina, usada para conter outras doenças, ainda estão sendo feitos testes. Portanto, receitá-la sem evidências médicas pode causar até mortes pelo agravamento, por exemplo, de arritmias cardíacas em pessoas com cardiopatia. Além disso, pacientes cardíacos são os que apresentam maior percentual de mortes no país e no mundo devido a complicações da contaminação com o Covid-19. Por outro lado, receitar Cloroquina a pacientes com sintomas desse coronavírus é expor os mesmos, desnecessariamente, a riscos desconhecidos. 

Na ciência, há um princípio básico que afirma que quando não se conhece os riscos e impactos, devemos adotar o Princípio da Precaução! No caso do Covid-19 esse princípio é o distanciamento social. Portanto, sair do isolamento, facilitando aglomerações, e tomar cloroquina só aumenta o risco de expansão das infecções, além de possibilitar o surgimento de doenças causadas por efeitos colaterais pelo uso dessa substância.

A Comissão Mundial sobre Ética da Ciência e da Tecnologia – COMEST afirma que “quando atividades podem conduzir a dano moralmente inaceitável, que seja cientificamente plausível, ainda que incerto, devem ser empreendidas ações para evitar ou diminuir aquele dano”. O dano e o incerto aqui é a Cloroquina. Portanto, o juízo de plausibilidade deve estar fundado em análise científica, também salientada pela COMEST.

Ao querer mostrar seu poder, o PR demarca sempre o terreno ideológico, inclusive sem originalidade, ao mostrar seu contínuo servilismo ao presidente Trump, um defensor não isento da Cloroquina. O PR, ao não conseguir emplacar o fim da quarentena, renova a seu repertório populista anti-ciência propondo o uso desse medicamento, com a artificial contraposição entre economia/emprego e saúde. Que use o dinheiro do Tesouro Nacional para ajudar a economia e as pessoas, e não se tornar um problema maior que a Pandemia. Falta compromisso social e ética ao sr. Bolsonaro.

Prof. Dr. Bebeto Marques (UFSC)

Prof. Dr. Gerson Mól (UnB)

Sócios da SBEnQ



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